De 17 a 21 de setembro de 2012
A Semana da Educação é evento anual, organizado pelos estudantes da Faculdade de Educação da Unicamp.
Aberto a toda pessoa interessada em debater educação, estudantes de pedagogia, licenciaturas, de pós-graduação e profissionais que trabalham no âmbito educacional.
“Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças” é com este pensamento que Eduardo Galeano nos brinda para pensarmos a respeito de educação. Num mundo cada vez mais cheio da racionalidade de governar máquinas e coisas, a educação assume uma função bastante significativa. Afinal, o que é formação humana para (futuros e futuras) educadores ou educadoras? Formar para quê?
E ainda, tendo como base de reflexão de que a Semana da Educação é uma proposta voltada para professores e educadores, o tom da pergunta investigativa, que vai tateando o caminho – aquela que permite a experiência como experimentação, pois toma como premissa que há ainda algo diferente por encontrar – mais uma vez nos visita: Educador(a), que form[a]ção é essa?
Esperamos que esta 6a Semana possa instigar o debate acerca da educação, colocando-nos perguntas instigantes e também encontros. Encontros, talvez não de respostas, mas de passagens, de outros pontos de vista e de percepção sobre a formação dos educadores e educadoras. Um poema de Chaplin conta-nos um pouco deste terreno das percepções, diante de grandes desafios como a educação.
O Caminho da Vida
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenou a alma dos homens...
levantou no mundo as muralhas do ódios...
e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.
levantou no mundo as muralhas do ódios...
e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos;
nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
(O Último discurso, do filme O Grande Ditador)
Afinal, que formação e em que contexto?
A
formação de profissionais da educação no Brasil é parte
importante na construção de um sistema de educação que atenda as
diferentes demandas educacionais, reduzindo as desigualdades
educativas marcadas por uma sociedade com imensas mazelas sociais,
próprias do capitalismo. Estas desigualdades foram intensificadas
pelas políticas neoliberais que penetraram nas últimas décadas,
principalmente a partir dos anos 90.
Nesse
sentido, com a finalidade de discutir a formação dos profissionais
que atuam na educação brasileira, em suas múltiplas dimensões,
desde a educação básica, pós-graduação, ensino superior público
e privado aos diversos espaços não escolares – a Comissão
Organizadora da Semana de Educação da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas colocam o seguinte eixo temático:
“Educador, que form(a)ção é essa?”
Atualmente,
a dinâmica formativa para os profissionais da educação tem sido
marcada pela separação entre o saber intelectual e a prática
profissional, aumentando o abismo entre professores e pesquisadores,
entre trabalho e produção científica. Além disso, parte-se do
princípio do aprimoramento do profissional da educação, conforme o
nível educacional, no qual atua criando-se uma hierarquia do saber e
resguardando às escolas privadas a responsabilidade pela formação
do maior número de professores atuantes na educação básica,
enquanto a pós-graduação, stricto sensu, e a pesquisa continuam
sendo campo para uma minoria.
A Lei de
Diretrizes e Bases para a Educação, em vigor desde 1997, provocou
um aumento no número de professores que buscam cursos superiores de
pedagogia e licenciatura, provocando a propagação de cursos de
baixa qualidade e o uso intensivo das novas tecnologias efetivados na
modalidade de educação à distância. Essas políticas têm seguido
sistematicamente as orientações das agencias internacionais de
financiamento.
Os anos
2000 só acirraram essa lógica, de formar o máximo de profissionais
em menos tempo, a fim de atender aos padrões avaliativos e índices
que indicassem melhor desempenho e desenvolvimento da educação no
país. Em nível federal foi criado o SAEB e o IDEB que, além de se
propor a analisar o ensino nos municípios e estados, também
direcionam as políticas formação de professores. Por esses
processos avaliativos cria-se uma ligação direta ou indireta com a
qualidade educativa e a formação de professores, gerando um
fenômeno de competitividade e responsabilização do docente pelos
resultados obtidos. Atreladas a isso, seguem também as políticas de
pagamentos por resultados, conhecidas como “políticas de bônus”,
isto é uma retribuição financeira diferenciada do salário base
para o docente que alcançar bons resultados. Ademais, essas
políticas reforçam a ideologia do individualismo e competição,
concomitantemente reduzem as responsabilidades do Estado perante as
políticas de formação docente, deslocando para os próprios
professores a responsabilidade pela sua qualificação e retificando
a lógica meritocrática, que não contribui em nada para superar as
desigualdades na educação brasileira.
A
formação de professores e demais profissionais da educação,
portanto, tem como objetivo hoje atender às novas demandas sociais e
às exigências internacionais, associando educação básica ao
mercado de trabalho, na qual o professor é fundamental para preparar
a mão-de-obra necessária ao novo contexto mundial e instrumento
indispensável para reproduzir as diferenças entre saberes de acordo
com as classes que os brasileiros ocupam.
Quanto à
pós-graduação, acirram-se os problemas de falta de acesso à
formação pública ou remunerada de qualidade, o que dá margem para
a regulação de agências de fomento, como a CAPES. Esta, além de
imprimir uma dinâmica de produtivismo e internacionalização aos
pesquisadores e professores do ensino superior, traz atualmente como
proposta de formação os Mestrados Profissionais. Essa modalidade
formativa tem sido proposta como alternativa para qualificação
rápida dos professores, “pouco onerosa” por ser financiada por
bancos e empresas e com parte do seu programa realizado à distância.
Tentando diferenciar o profissional para a pesquisa que se formará
ainda pelo Mestrado Acadêmico, o Mestrado Profissional é mais um
instrumento determinante da separação da teoria e da prática na
formação dos educadores brasileiros.
Observa-se
ainda, em âmbito estadual, o recente ataque do Conselho Estadual de
Educação do Estado de São Paulo com a Deliberação n.111/2012,
alterando as atribuições dos professores da educação básica. Em
âmbito municipal, conhece-se há algum tempo o oferecimento de
diversos cursos de formação via consultorias, assessoramentos de
empresas, parcerias com ONGs ou, ainda, pós-graduações em parceria
com faculdades privadas em sua maioria lato sensu e EaD.
Diante
desse contexto, a 6a Semana da Educação pretende, portanto,
aprofundar o debate em torno da seguinte questão: é possível
garantir qualidade da educação em todos os seus níveis sendo que a
maioria dos profissionais da educação têm se formado a distância,
tendo como parâmetros de atuação a competitividade, a meritocracia
e a falta de perspectiva para construção de uma carreira?
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